Acredito que todas as vinte e sete pessoas
que acompanham esse blog sabem da minha paixão por música.
Já escrevi aqui sobre a minha relação com meu fone de ouvido e todas as vezes que procuro retratar sobre meu dia-a-dia, sempre
menciono que estou ouvindo algo.
Não sei porque sou assim. Sei que tenho váriaslembranças de músicas que me acompanhavam na infância, na adolescência e já na fase
pós-adolescência – já que não me considero adulto – em que várias canções retratavam
o meu cotidiano e que serviam de trilha sonora pessoal.
Tenho memórias vivas de quando ganhei o
primeiro Walkman que tive na vida e quando andava pelas ruas com aquele tijolo
no bolso e os fones encaixados no ouvido e tudo parecia ter mais sentido (inclusive
quando tirava uma caneta BIC para rebobinar as fitas manualmente, pois pelo aparelho
era um processo em que gastava muitas pilhas). Ou de quando comprei o primeiro
discman e andava com quilos e quilos de CD’s e pilhas na mochila.
Não importa. Em todas as passagens da minha
vida a música está presente, mesmo que eu não toque instrumento nenhum.
Se alguém me perguntar qual a banda ou
cantor que mais escutei na vida, não sei responder. Nos últimos 30 anos, por
exemplo, escutei Roberto Carlos nos especiais da TV, mas nem de longe o Rei está
entre o que mais ouvi na vida.
Não sei nem dizer qual a banda ou cantor que
a vida mais me fez ouvir.
Só sei dizer o que mais gostei de ouvir
nessa vida. E essa história começa quando eu estava na sétima série.
Era aula de inglês e a professora aplicou
uma atividade em
grupo. Fomos separados em grupos de cinco pessoas e todos tinham que apresentar uma música na sala de aula, com uma versão traduzida pelo
grupo de forma impressa e uma apresentação sobre a história da canção escolhida.
Era 1996 e um cara do grupo sugeriu uma
música dos “Backstreet Boys” para conquistar as meninas da sala. Mas aí outro
sujeito sugeriu Beatles e a música “Hey Jude”.
Ouvi aquela música e fiquei maravilhado. Queria
ouvir mais músicas da tal banda e fui comentar com meu pai. Ele disse que
realmente era uma banda boa e que fazia falta.
- Como assim faz falta, pai? Meu amigo tem o
CD da banda.
- Ué. Eles se separaram há quase 30 anos.
- Sério?
- Sim. Eles tocavam na década de 60.
Fiquei responsável por traduzir aquela música
e um verso em específico me chamou a atenção.
“Don't carry the world upon your shoulders”.
Não carregue o mundo em suas costas. Pra mim
isso era de uma importância sem igual.
Mas não virei fã da banda. Conhecia algumas
músicas mais famosas como “Yesterday, Twist
and Shout, Yellow Submarine, Lucy In The Sky With Diamonds”, mas ficava só
nisso.
Apresentamos a música, com quatro membros de
terninho e peruca, e depois assistimos outro grupo dizer que ia tocar a mesma
banda, mas com a música Imagine (que é do John Lennon e não dos Beatles).
Anos se passaram até minha entrada na
faculdade. Lá, meu universo sobre a banda se expandiu. Fui conhecendo novas músicas,
ampliando meu horizonte e conhecendo a discografia.
Li a bibliografia deles de mais de mil páginas duas vezes, sei a história de quase todas as músicas. Aí sim, virei fã.
Formei e em um dos escritórios que trabalhei
passava horas discutindo sobre a banda com um amigo. Esse amigo então me disse:
- Cara, não tem jeito. Beatles é a música do
coração.
Essa frase, juntamente com o verso de Hey
Jude, ficavam martelando na minha cabeça.
Talvez porque seja verdade.
E hoje afirmo que é verdade pois tudo que
passei nos últimos 10 anos, passam por versos cantados por eles. Tudo.
"Vamos ver o que esse cara vai falar da gente" |
Foi ouvindo o
que eles diziam que eu, ao longo desses anos, sorri, chorei, pensei e sonhei.
Foi com eles que aprendi um pouco do pouco sei sobre amor, sobre paixão,
saudade, sofrimento. Foi ouvindo esse quarteto de Liverpool que me transformei
no homem que sou hoje.
E esse hoje, aborda este ano inteiro que, em
especial, foi um ano difícil. Muito difícil.
Tomei muita pancada. Tombos que achei que não
teriam solução. Decepções atrás de decepções. Mudanças que não estava preparado
para suportar e tempestades que não previa, mas que aconteceram. Sei que não
foi a primeira vez que isso aconteceu e nem a última, porém foi a primeira vez
que me vi completamente sozinho em um barco à deriva num oceano que não
imaginava pra onde me levaria.
E no olho do furacão, lá no começo do ano
que, em meio as lágrimas, eu ouvi a voz do Paul me dizer (novamente) para “pegar
uma canção triste e torne-a melhor. Se lembre de deixá-la entrar em seu coração
para que você comece a melhorar as coisas.” Nessa mesma canção, ele ainda diz que:
“Em
todas as vezes que sentir dor, Ei Jude, vá com calma. Não carregue o mundo nos
seus ombros”
De novo sobre o mundo nos ombros. De novo me
alertando.
E em maio desse ano, tive a oportunidade de
ver o Paul McCartney tocar na minha cidade. Até tentei contar nesse texto aqui,
mas acho que não consegui transmitir a emoção que senti e como aquele dia foi
importante.
Pena que foi apenas um dia e logo depois a tempestade
piorou e só terminou na metade do ano. Nessa primeira metade do ano,
profissionalmente e pessoalmente falando, a sensação era de realmente carregar
o mundo nas costas.
E foi ai que outra música deles me mostrou
que:
“Quando
me encontro em tempos difíceis, a Mãe Maria vem até mim, dizendo palavras de
sabedoria: Deixe Estar, Deixe ser.”
As coisas se ajeitaram. Essa Mãe Maria aí de
cima posso dizer que simboliza exatamente minha aproximação a Deus, Jesus e
Maria. Consegui aquecer e ter mais tranqüilidade para resolver minha vida até
me surpreender com uma nova tempestade, porém em um grau menor, que me jogou a
lona novamente neste fim de ano.
E pela milésima vez, foi com seus
ensinamentos sobre amor, saudade, superação e paciência que o FabFour de
Liverpool me reergueu. A mesma música, porém em outro verso, me deu uma lição
que nunca havia enxergado naqueles versos.
“Então
coloque pra fora e deixe entrar, Ei Jude, comece, Você está esperando por
alguém com quem realizar as coisas e você não sabe que essa pessoa é exatamente
você? Ei Jude, você basta! O movimento que você precisa está nos seus ombros”
Desta vez, acredito que aprendi a lição. Não
vou mais carregar o mundo nas costas, mas vou carregar outra coisa. Vou trazer
comigo o movimento que eu preciso, conforme eles me ensinaram, nas costas.
Continuar andando. A vida continua. Pra
frente. E esse foi o grande ensinamento que aprendi com eles.
Continue andando. Mas agora vou andar com
uma pequena ajuda dos meus amigos.
Juntos.
Guilherme Cunha. Ex-advogado. Futuro escritor. É apenas mais um trabaiadô,doutô. Mais um nerd gordo que acha que é blogueiro. Apreciador de boa cerveja, boa música, boa conversa e de paciência Spider. Melhor jogador de War com as peças verdes. Siga-o no twitter: @guijermoacunha
ótimo texto!!!
ResponderExcluirObrigado, Ju! :)
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