segunda-feira, 6 de maio de 2013

A Day in the Life


Algumas pessoas nascem para jogar futebol. Desde pequeno, é possível ver que aqueles dribles, aqueles gols ou aquelas defesas podem se tornar uma profissão no futuro.

Dessas pessoas, algumas conseguem viver disso. Jogam futebol profissionalmente, viajam pelos cantos do Brasil e tem muitas histórias para contar por causa do esporte.

E dentre essas pessoas, poucos tem o privilégio de viver e sustentar famílias com seus salários estratoféricos. Jogam em grandes clubes, viajam o mundo todo por causa da bola e fazem parte do momento único de milhares de vidas que se cruzam naquele instante, seja dos próprios jogadores ou de torcedores que pagam ingresso e estão ali no estádio para presenciar a história de alguém ser escrita naquele local, naquele dia.

Torcedores esses que estão ali apenas para esquecer momentos ruins que se passam na vida ou para celebrar algo. Todos que freqüentam aquele espaço têm suas próprias histórias, os próprios momentos e motivos que fizeram o suado dinheiro sair do bolso e ser investido em algo que não trará retorno financeiro. Apenas um conforto espiritual. Aquela lavada na alma que faz o sono vir melhor e o sorriso ficar estampado no rosto.

E no sábado que se passou, assim que eu vi o Sir Paul McCartney entrar no palco do Mineirão, pensei nisso.

Enquanto “Eight Days a week” abria o show e era cantada pelo público presente no estádio, eu olhava ao redor e vi as arquibancadas do Mineirão, completamente lotadas, cantando juntas, como se fosse uma torcida.

Eu estava ali, no gramado (sobre ele, na verdade, devido as placas de proteção) do estádio no qual fui criado, olhando ao redor e vendo as pessoas gritarem de alegria.

Ele tocou “Junior’s Farm” logo depois de cumprimentar a plateia, em português, dizendo “Boa noite Beagá! Povo bão”. E então ele tocou “All my loving”, levando a gritaria do publico presente.

E só então, eu reparei de novo nas pessoas ao redor. A Beatlemania, iniciada a 50 anos atrás, estava mais viva do que nunca, com pessoas de todas as idades cantando e vibrando.

Logo depois, as luzes diminuíram e ele foi pro piano. Tocou músicas lindas e românticas como “My valentine” (dedicada para esposa Nancy) e “Nineteen Hundred and Eighty-Five”,  Long and winding Road” (dedicada para Linda) e “Maybe I´m amazed”, emocionando a todos que estavam ali.

Em seguida, mais sucessos dos Beatles, como “We can work it out”, e da sua carreira solo como “Another day” e surpresas como o palco dois que subiu para ouvirmos “Blackbird” e “Here Today” e as músicas “All together now” e “Mr. Kite” que estrearam no setlist da turnê.

Depois, foi encaminhar para o fim, com “Something”, “Obla di obla da”, “Band on the run”, “Hi hi hi” e “Back in the USSR” que antecederam as músicas mais aguardadas pela maioria.

Let it be”:


Depois “Live and let die


E por fim, “Hey Jude” que foi responsável por emocionar o cantor com as plaquinhas de “Thank You” levantadas pela plateia da Pista Premium.




Depois foi a vez do Bis. Voltou com “Day tripper”, “Lovely Rita” e “Get Back”. No 2º Bis, “Yesterday”, “Helter Skelter” e o medley final do Abbey Road “Golden Slumbers/Carry the weight/The End”.

No fim, eu voltei pra casa lembrando que vi um menino de uns 10 anos, com camisa dos Beatles e tudo, levantar um celular para acompanhar o público com o “Let it Be”, me recordando do casal sexagenário ao meu lado se beijando em “And I Love Her” e dos pulos de um senhor de uns 70 anos pulando em “Helter Skelter”.

Em todas as músicas, Paul tocou o coração de alguém. Fez os mais velhos pularem, os casais se beijarem (e novos surgirem), as crianças parecem adultas e todo mundo que estava ali sorrir, chorar, cantar e amar.

Então lembrei que a última vez que experimentei todas essas sensações, foi em um estádio de futebol. E justamente ali, no gramado, pude ver e sentir a arquibancada cantando junta e imaginei o que 22 jogadores sentem quando jogam ali.

Senti uma pontada de inveja dessas pouquíssimas pessoas que nascem pra jogar futebol e encantar o público presente, através daquele gramado.

E me emocionei com o poder que aquele homem tem de cativar tantas pessoas através de sua música. Apenas um cara e sua banda conseguiram fazer quase 60 mil pessoas, cada uma com razões e sensações diferentes, viverem uma experiência única.

Mas não senti inveja dele. Apenas fiquei honrado de estar presente ali, vivenciando histórias que serão contadas para filhos e netos, cada um da sua maneira, com detalhes pessoais e motivos e visões únicas para o show, mas todos falando sobre o dia histórico que presenciaram no estádio.

O Mineirão nunca mais será o mesmo. 

2 comentários:

  1. Sua história e a minha são muito parecidas! Já li a Biografia dos Beatles de 1000 paginas mais de duas vezes, conheço a historia de todas as músicas praticamente. E fui no show no Minerão, só o melhor dia da minha vida inteira! Eu não podia acreditar: eight days a week no inicio e the end no fim. A playlist foi perfeita para quem tinha o sonho de ir a um show ao vivo dele!
    Hello goodbye!

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    1. Show espetacular mesmo! Acho que The End devia tocar no fim de tudo na vida, seja no seu ultimo dia em um emprego, seu ultimo dia em um relacionamento ou no ultimo dia de vida. Vou deixar registrado em cartório o meu desejo de tocar The End no meu velório, rsrsrs. E Beatles é vida! :)

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